quarta-feira, 24 de março de 2010

A Mãe

Minha mãe nasceu há 49 anos. Ela completa hoje 49 anos de existência. Não é uma mulher famosa, que todos conhecem, mas ao menos ela conseguiu marcar a vida das pessoas com quem conviveu durante a vida. Não sei se acredito em destino. Não sei se acredito em missão. Se existe destino, o fim da minha mãe pode ter sido meio cruel. E se existe missão, bom, talvez ela tenha resolvido a dela. Minha mãe acreditava nisso. Destinos, missões. Nós viemos à terra para fazer alguma coisa. Para cruzar com alguns e mudar a vida de outros. Não sei qual era a missão da minha mãe. Não sei se ela sabia. Mas acho que no fim dá pra entender. Ainda é meio confuso. É como se perder num labirinto e não saber por que caminho andar. Mas guias ficaram pra me ajudar. Outras eu encontrei depois. Outras eu ainda vou encontrar. É o ciclo da vida. É o destino. Viemos para cruzar com alguns e para mudar a vida de outros. Ou, quem sabe, o outro bate de frente com a gente para mudar nossas vidas. É nada mais nada menos que nossa missão. Acho que acredito nela. Acredito em destino e missões.

Depois de muito tempo, vejo que sou bastante parecida com a minha mãe. Ela era tímida também. Quase não falava quando estava no meio de um grupo. Mas quando abria a boca... Ou falava besteira ou dava um corte nos outros. Minha mãe não precisava beber para sorrir abobada de tanta felicidade. Para ela bastava estar com as pessoas que ela mais amava por perto. E ainda comentava bem sorridente “Isso que eu nem comecei a beber ainda!”. Tinha um brilho naquele olhar quando sorria. Era o sorriso mais bonito da família dela. A mais nova, a mais decente. Era uma mulher encantadora. A única que servia de exemplo pra mim.
Apesar de toda essa felicidade que ela almejava e que sempre afetava as pessoas à sua volta, ela tinha um jeito acanhado que a incomodava um pouco. Quando algo a incomodava, ela se trancava dentro dela mesma. Parecia só que estava séria, ela não transparecia seus sentimentos tristes, só os oprimia. Já quando estava muito irritada, bom, que saíssem da frente, porque era bucha segurar aquela mãe furiosa. E eu só fui dar-me conta disso quando ela foi embora. Ela era ou 8 ou 80. Para mim ela estava sempre de bem com a vida, fora as neuroses dela. Não sabia que ela trancava seus sentimentos ruins. Descobri isso depois. Até hoje não sei direito o porquê de ela ter se separado do meu pai. Mas isso não importa agora. Importa que ela sofria muito sozinha.
Eu sou parecida. Minha timidez também atrapalha um pouco. As pessoas que não me conhecem direito me acham antipática. Todos os tímidos são vistos assim à primeira vista. Mas parando para refletir, notei que todo esse meu jeito quieto de ser, vem dela. Preciso melhorar e desabafar o que sinto para alguém sempre. Para não viver sozinha num mundo que é só meu como minha mãe vivia fazendo. Também tenho que cuidar meus números. Preciso me manter sempre entre o 8 e o 80, longe dos extremos. É preciso estar sempre controlando a si mesmo.
Tenho descoberto como minha mãe era através dos amigos dela. Enquanto isso, tento me descobrir. Há muitas coisas que temos em comum, não tem como negar. Mas as coisas podres eu não quero. Não irá fazer de mim uma pessoa boa. Estou pegando as coisas boas dela e botando o resto no lixo. Vale a pena usar o que é bom dela. Quem conheceu a minha mãe sempre comenta: “Como tu és parecida com a tua mãe”. Isso é um elogio. Ela foi um exemplo. Há pouco tempo lembrei que ela era bem vaidosa. Isso eu não peguei dela. Prefiro me vestir mais a vontade como meu pai faria. Já a paciência dela sempre foi muito admirada no meu ponto de vista. Eu era uma pirralha tinhosa e gosto de provocar vários amigos e parentes até hoje. E ela sempre foi paciente ao lidar comigo e com a minha irmã. Essa admirável paciência eu roubei dela. O jeito minucioso de ela fazer as coisas, com jeitinho, com paciência. Lentamente ela sempre terminava o seu trabalho e o fazia bem feito.
Outra coisa admirável era a sua determinação. Uma mulher decidida e que levava fé nas coisas que eram possíveis. Sempre demonstrava que nós tínhamos que lutar quando estivéssemos em campo. Pois um dia poderíamos levantar a nossa bandeira da vitória (ou da derrota!) com orgulho. E o orgulho! Ela era muito orgulhosa. Sempre elogiava suas filhas para os amigos. Se entregava para a paixão que tinha pela gente. E não importa onde ela esteja agora, sei que ela se sente de alguma forma orgulhosa por saber que suas filhas estão bem, estão encaminhadas, estão se decidindo e lutando pelo o que querem. Sei que ela viajou contra a vontade. Ela se assustou no inicio e não quis nos deixar, estava sempre por perto. Quando viu que nós podíamos continuar sem ela, surgiu o alívio. Ela saiu do nosso mundo e fez a travessia.
Seu último desejo talvez esteja se realizando. Acho que ela queria isso mesmo da gente. Ela nunca quis nos mostrar o caminho certo, sempre quis que a gente o escolhesse. E estamos escolhendo, eu e a Raquel. E ela sabe disso. Eu sei que sabe. Por que mesmo tendo ido embora, ela sempre procura pela gente. Mesmo longe, sempre consigo encontrá-la. Num pensamento, numa lembrança, em algum lugar do passado. Ela está sempre lá. Sinal de que ela fez parte da vida e de alguma forma ainda está conectada conosco. Me dando uma luz. Torcendo por mim.

Larissa Amada

Um comentário:

  1. Lariiii
    lindo o que tu escreveu sobre a tua mãe!onde quer que ela esteja ela tem muito orgulho da pessoa que tu te tornou! continua assim! beeijo amiga

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