Um dia estava com uma amiga, e ela estava me contando sobre a mãe que está no hospital, com muito medo da morte próxima. Ficamos conversando sobre a dificuldade que algumas pessoas têm de aceitarem a morte. Essa conversa nos fez discutir vários pontos sobre a morte e seus mistérios.
Lembrei-me do meu pai contando sobre a última vez em que viu a mãe dele viva, no hospital. Ele disse que esteve lá no hospital a visitando naquela manhã. Ela, ao contrário da mãe dessa minha amiga, estava muito tranqüila no leito, no dia em que faleceu. Meu pai descreveu “que era uma tranqüilidade impressionante, como se ela fosse sair de tudo aquilo numa boa”. Antes de ir embora, ele perguntou a ela se estava tudo bem e ela, tranquilamente, respondeu: “Sim, meu filho. Está tudo bem. Pode ir agora”. Ele não sabia como, mas havia sentido alguma coisa naquelas palavras. Quando chegou em casa, recebeu a notícia: “Sua mãe faleceu, José Carlos.” Essa história ficou guardada na minha memória. Minha avó paterna foi corajosa diante da morte. Morreu com dignidade. O que chocou meu pai foi o fato de ela ter ido embora “numa boa”. Hoje fico pensando: Sim, pai. Ela saiu de tudo aquilo numa boa. Nem sempre a melhor saída é a cura.
Já ouvi falar que há pessoas que não dormem, ficam sentadas de olhos bem abertos, com medo de morrer. Por que as pessoas têm tanto medo da morte? Está certo que ela é um tanto complexa. Existem várias teorias prontas sobre isso. Cada um escolhe no que irá acreditar. Mas quando chega a hora, a dúvida surge. Eu mesma (mesmo não gostando de pensar muito nisso, mas já tendo pensado, porque um dia todos pensam nisso) tenho minhas próprias ideias sobre o assunto. Pra quem fica aqui na Terra, apenas vê uma pessoa sendo enterrada (ou cremada) e sabe que nunca mais vai voltar a vê-la. Nós continuamos vivendo, enquanto que o corpo daquela pessoa que tanto amamos, será consumido por vermes, virar só unha, cabelo e esqueleto (ou será apenas pó).
Mas e a outra parte da gente? E a alma? Existe isso? Alma? Eu acredito em corpo e alma. O corpo fica, mas e a alma? Vai pra onde? Não sou uma pessoa que acredita em Deus, ou em céu e inferno. Ainda há muitas pessoas que acreditam que vão encontrar Deus lá no céu, para o juízo final, ou sei lá eu o quê. Francamente, eu acho esse pensamento tão Idade Média. É uma boa história, foi bem inventada, mas pra mim, que não acredito em Deus, isso não serve, é piada.
Eu escolhi acreditar que as almas passam para outro mundo. Um mundo que não está aberto aos seres vivos. Alguns chamam isso de “plano”. O filme “Um olhar do Paraíso” mostra um pouco isso. Deixa a ideia dos dois mundos e da passagem. Minha mãe dizia que no segundo plano as almas cumprem suas penas e aprendem, até o momento em que elas estiverem prontas para retornar ao nosso mundo, no corpo de outra pessoa. Reencarnação.
Também acredito em casos em que a alma não vai para esse segundo plano, como se ela acreditasse ainda estar viva. O espiritismo explica isso. A caminhada entre os dois mundos é uma passagem da vida material para a espiritual. Pessoas muito apegadas ao material encontram grandes dificuldades em seguir o novo caminho, e por isso, ficam perambulando entre nós por um bom tempo.
É esses espíritos materialistas que certas pessoas vêm por aí. Meus pais viam ou sentiam a presença deles. E eu mesma, vi de relance, duas vezes. A primeira vez foi num apartamento onde estávamos morando de aluguel. Eu e minha mãe jantávamos na cozinha. Conversa vai, conversa vem, vimos a minha irmã passando pelo corredor em direção à sala, onde estava o meu pai. Num dos altos papos entre eu e minha mãe, chamei a Raquel para participar da conversa. Surpresa foi a nossa ao ouvirmos a voz da minha irmã vinda do quarto, sentido oposto à sala. Gelei na hora! Jurei pra minha mãe que tinha visto a Raquel passando ali. E ela disse que também viu. Só que foi uma visão bem “relanceada”. Vimos um vulto passando ali e não minha irmã de fato. Ouvindo nossos comentários, meu pai foi à cozinha falar que não queria nos assustar, mas já assustando, realmente havia alguém naquela casa! “Esses dias eu vi ele no banheiro. Mandei ele ir embora.”, disse meu pai. Fiquei imaginando meu pai entrando no banheiro e vendo um senhor de idade sentado no vaso, fazendo cocô. Depois daquele dia, nunca mais fui feliz no tal apartamento, pelo menos não no banheiro. Sempre tomava banho de dia, com a porta do banheiro aberta, num horário em que meu pai ainda não estava em casa.
A segunda vez também foi bastante assustadora. Foram poucas as vezes que eu consegui dormir com a porta do quarto aberta, depois do acontecido. Eu estava indo dormir quando vi alguém descendo as escadas. Não consegui identificar quem era. Podia ser minha irmã (de novo culpa dela!) ou minha tia, que naquela noite ia dormir ali no quarto dela. Mas eu tinha acabado de dar boa noite pras duas! Fiquei incomodada com aquilo e fui investigar. Espiei o quarto da minha irmã, mas estava muito escuro lá dentro. Não dava pra identificar se as duas estavam presentes ali. Desci. Meu pai estava na cozinha lavando a louça. Perguntei se ele tinha acabado de descer, o que eu duvidava muito. Ele me olhou com uma cara de “tu estás ficando louca”. Fui pro quarto dos meus pais e fiz a mesma pergunta pra mãe. Ela sentiu o que havia acontecido. Deve ter ficado com pena da minha cara de apavorada. Comentei o fato com minhas amigas no dia seguinte, no colégio. Uma delas, que é espírita, disse que também viu alguém descendo as escadas no dia em que elas foram fazer um trabalho lá em casa. Pronto! Dormir com a porta do quarto aberta se tornou impossível. Antes eu só conseguia dormir com a porta aberta, pois tinha medo do escuro. Depois disso, descobri que dormir no escuro era mais seguro!
Mas e agora? Acredito em segundo plano, mas às vezes fico pensando: o que realmente acontece depois? Não existe alguém que tenha voltado pra contar sobre esses mistérios. E então vem aquele medo da morte. Surge a dúvida de novo. Voltando ao início de toda a história, fico imaginando porque as pessoas não deveriam ter medo de morrer. A gente nasce, vive (ou não), e morre! A morte faz parte do ciclo da vida! Consideremos isso uma dádiva. Não tem porque vivermos para sempre. Isso é até uma ironia pra mim, considerando que na minha futura profissão, irei fazer o possível para que uma pessoa não morra. Será?! Meu dever não seria apenas cuidar da saúde das pessoas? Afinal, nem sempre é possível escapar da morte. Há casos em que tudo é feito para o paciente e mesmo assim não tem jeito de salvá-lo. Uma hora as pessoas morrem. Já disse. A morte faz parte do ciclo da vida.
Larissa Amada
“Uma vida só é perfeita quando chega no final. Não segue uma receita. É uma história sem moral. Você leva a vida inteira e a vida é curta e coisa e tal. Se você não aproveita, a vida passa e tchau!”
domingo, 17 de abril de 2011
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