domingo, 4 de abril de 2010

As lições de uma escola: uma ponte que leva pra longe


“A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir” (Campinas, SP: Papirus Editora – 2003), o livro do escritor Rubem Alves traz um conjunto de seis crônicas publicadas pelo autor no jornal Correio Popular de Campinas.
Rubem Alves já foi teólogo e militou na política, e há alguns anos se dedica a poetas e as crianças: escreve crônicas, livros infantis, dá palestras, viaja e têm experiências fantásticas como essa que ele vivenciou na Escola da Ponte, em Portugal.
O livro fala sobre uma educação diferente. Explica que “a educação é um caminho e um percurso”. Os caminhos existem para serem percorridos. Eles estarão sempre lá, mas só existem de verdade quando os percorremos. O caminho é composto pelas experiências de quem o percorre, é apenas uma proposta de trajeto, não um projeto, muito menos o nosso próprio projeto de vida.
A Escola da Ponte é um colégio que dá atenção aos seus alunos. Eles aprendem com a ideia de que exista realmente esse caminho. Aprendem a partir da experiência própria, pois acredita-se que uma pessoa só consegue aprender a partir de suas experiências de vida. Se um aluno no ato de aprender não souber unir a matéria que vem sendo pesquisada com seus conhecimentos gerais próprios e/ou exemplos do mundo que o cerca, ele logo esquecerá os conhecimentos que há pouco adquiriu.
Por outro lado, as escolas denominadas normais, são vistas, não como um lugar de ensino, e sim como uma prisão, onde os alunos ficam presos durante um período de tempo dentro de uma sala, calados, sendo obrigados a ouvir um professor falando de uma determinada matéria cujo interesse ele não tem. Sendo obrigados a “saber” um assunto para no fim do mês aplicar uma avaliação que testará seus conhecimentos sobre aquilo que ele nem aprendeu direito.
Nessas escolas cada um dos integrantes existentes são inferiores a outro. Os professores precisam fazer um programa de ensino e os alunos precisam seguir a essas regras. Os alunos mais CDF’s são muitas vezes os preferidos do professor, e esse muitas vezes não dá uma atenção especial para os que realmente precisam de sua ajuda. Ambos os membros seguem uma rotina tão organizada, que transforma um espaço que poderia ser agradável, já que eles precisam conviver nela a semana inteira, num espaço de grande insatisfação.
Por isso que a Escola da Ponte é tão diferente. Para começar ela não é vista como uma prisão. No seu interior não existe salas que dividem os alunos por séries. Cada criança pode ter quantos professores quiser, pois não existe um professor específico para cada matéria, e sim vários orientadores para cada “pesquisa”. Depois, a Escola da Ponte está bastante interessada não apenas no processo de conhecimento dos seus estudantes, mas também no processo psicológico de cada um deles. Para os adultos dessa escola, o aluno tem o direito de aprender vivendo, admirando-se, perguntando, espantando-se, descobrindo, errando, brincando. E para isso, é necessário que ele esteja de bem com a vida e consigo mesmo.
As crianças convivem num ambiente onde aprendem a solidariedade, a igualdade e a liberdade. Onde a criança que se julga mais conhecedora de um assunto pode ajudar uma menos experiente. Onde elas convivem uns com outros sem ter um pré-conceito das pessoas e das coisas. Onde elas podem exigir seus direitos sem ser julgadas por isso. Onde elas possam escolher o que querem estudar, formando um grupo de semelhantes com idades diferentes, mas que possuem o mesmo interesse. Onde elas têm o direito de usar os computadores para fazer as suas pesquisas relacionadas aos seus interesses e ouvir música para se concentrarem e trabalharem em silêncio. Onde qualquer criança é considerada capaz e digna de conquistar o mundo.
A Escola da Ponte é vista como uma passagem para o mundo que nos acerca. É um elemento importante para nos ajudar a ter conhecimentos sobre o que vamos ver lá fora. “Um espaço onde se vive o que se aprende e se aprende o que se vive.” Uma associação de interesses iguais, onde a criança não sai formada para o mundo, e sim pronta para o mundo.

Larissa Amada